A Roda do Ano Celta

A primeira vez que ouvi falar na Roda do Ano foi quando comecei a ler sobre o povo Celta. Cheguei ao povo Celta porque senti que precisava de prestar homenagem à terra que piso e aos que vieram antes de mim.

Ser Português tem muito que se lhe diga, foi o cabo dos trabalhos meter-me nisto de honrar antepassados. Cheguei a pensar muitas vezes - “Onde raio me vim meter? Porque é que eu não sei ficar quietinha na minha vida” - lembrei-me das aulas de História onde só participava de corpo presente porque a cabeça… nem sei, e tinha-me dado jeito agora.

Enfim, temos um património genético que só faz lembrar o jantar de domingo à noite para aproveitar os restos da semana. Ele é Celtas (Lusitanos, Galaicos e Cónios), ele é Gregos, Fenícios, Romanos, Cartagineses, Suevos, Visigodos, Mouros, Árabes… enfim… uma salganhada. Por isso, na hora de honrar antepassados, deparei-me com a necessidade de fazer uma escolha.

Em vez do “um-dó-li-tá” fui olhar para a minha família e percebi que, não negando a costela alentejana de Grândola, as costelas dominantes são Ribatejanas e de Trás-os-Montes. Por isso a escolha estava nos Celtas (ok, pronto, eu estava a torcer por isso, só precisava de uma justificação plausível ahaha).

Não há como negar a presença Celta em Portugal, grande parte das nossas festas tradicionais têm origem pagã, cujas influências são bem visíveis no Norte do país. Mas bem, foco!

Roda do Ano

ilustração do livro Wicca, Harmony Nice

ilustração do livro Wicca, Harmony Nice

Os Celtas regiam-se pelos ciclos do Sol e da Lua. Com uma profunda conexão à natureza, os festivais Celtas, que marcavam a passagem do tempo, estavam intimamente ligados à vida agrícola e pastoral, e isso é visível nos rituais - de vertente tanto religiosa quanto mágica - que serviam para agourar boas colheitas.


Para os Celtas, o ano dividia-se em dois ciclos:

🌙 Geimredh - A metade equivalente à noite (ao Inverno)
☀️ Samradh - A metade equivalente ao dia (ao Verão)

Que se subdividiam em quartos, marcados pelos festivais do fogo, os Sabbats:

🌙
Geimredh, o 1º quarto, que se inicia com o festival de Samhain a 31 de Outubro
Earrach, o 2º quarto, que se inicia com o festival de Imbolc a 1 de Fevereiro
☀️
Samradh, o 3º quarto, que se inicia com o festival de Beltane, a 1 de Maio
Foghamar, o 4º quarto, que se inicia com o festival de Lugnasadh, a 1 de Agosto

Por entremeio, marcavam também os Solstícios e os Equinócios:

Equinócio da Primavera, a 21 de Março, Ostara
Solstício de Verão, a 21 de Junho, Litha
Equinócio de Outono, a 21 de Setembro, Mabon
Solstício de Inverno, a 21 de Dezembro, Yule

O meu altar de Lugnasadh (ou Lammas), que se comemorou no passado sábado.À falta de uma mesa cheia, e à luz de uma pandemia, celebrei-o online com as minhas magas, a Joana do Ninho e a Joana do Vento.

O meu altar de Lugnasadh (ou Lammas), que se comemorou no passado sábado.

À falta de uma mesa cheia, e à luz de uma pandemia, celebrei-o online com as minhas magas, a Joana do Ninho e a Joana do Vento.

Com Imbolc, vinham os nascimentos, é época de celebrar começos, em Beltane, trazia-se o gado a pastar, porque o clima já não era tão duro, em Agosto, com Lugnasadh, iniciavam-se as colheitas e a preparação para o Inverno, que chegava com Samhain, o início do ano Celta.

A roda do ano retrata a ciclicidade do Tempo. O ciclo das Estações: nascimento, crescimento e morte.
Para mim, celebrar cada festival é honrar não só a memória dos meus antepassados, como honrar a vida, honrar o tempo das coisas. Relembra-me de que sou Natureza e que, tal como ela, sou cíclica.

Comemorar a Roda do Ano ensina-me a ter respeito pelo tempo das coisas, retira-me de cima o peso da urgência, do para já, do para ontem, e ensina-me a desacelerar.


O tempo tem o tempo que o tempo tem. Honra.








Olívia e o Vento

Aproximei-me quase como que pedindo desculpa, como se a minha presença não fosse digna da mesma terra. Sacudi o pó da minha roupa, e ajeitei o cabelo, sorri. Ela, envergonhava-se sob o sol do meio dia, folhagem desperta, pétalas que te convidam a ficar perto. Sentei-me sob as suas folhas e como quem escuta, sem querer querendo, a conversa da mesa ao lado no café, escutei-lhe a conversa com o Vento:

- Olívia - nome que nos deixa a boca entaremelada de beleza, pensei, fica-lhe tão bem o nome - porque não me deixas amar-te? - continou o Vento.

 
Recordo-me olhar de relance e Olívia parecia ter crescido sob uns sapatos de salto que guardara para quando Ventura, o vento, soprasse. Sorriu como quem não sabe o que fazer às folhas, e as suas pétalas, outrora escondidas pela timidez sob o sol que brilhava por entre a folhagem, já não eram tom céu ao nascer da noite, quantas cores o dia tem, mas cheiro a ternura e colo, mãos de avó no cabelo, café da manhã. Olívia tinha o cheiro da felicidade e dançava, e eu entendi porque Ventura soprava tanto naquela região da Amazónia. Ventura e Olívia dançavam, e eu aprendi que impossíveis é coisa que não existe no amor.

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Escrito sob a varinha de condão da encantadora de corações pulsantes, Cris Lisbôa

De que é feita uma vida feliz?

Esta Ted Talk do Robert Waldinger sobre a Felicidade e de como damos por nós numa corrida em busca de uma ilusão:

What keeps us happy and healthy as we go through life? If you think it's fame and money, you're not alone - but, according to psychiatrist Robert Waldinger, you're mistaken. As the director of a 75-year-old study on adult development, Waldinger has unprecedented access to data on true happiness and satisfaction.

Amar-te

 
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Amar-te é luta diária que se mistura em conforto e escassa gratidão. Vivemos na ilusão de uma versão melhor. De um amanhã que tarda em chegar e de um passado como janelas que se abrem para o sol. Tudo porque escolhemos esquecer os gritos abafados na estrada, atrás do volante. Esquecer a raiva e a angústia. Escolher sorrir.

Mas sabes? Escolho amar-te, mesmo quando choras ao espelho olhando-me de volta. Amar-te inteira e sem reservas ou condições. E perdoar-te por tantas vezes me olhares sob o signo de uma perfeição que não tem espaço para existir.

Ah, Inês, como posso dizer-te que os pés que evitas olhar são caminhos por acontecer? Que a magia dos dias acontece mesmo quando não estás atenta? especialmente quando não estás atenta. Escuta. Lá fora canta um passarinho e o teu gato espreguiça o sono do corpo para o ouvir. É preciso olhar para dentro para melhor escutar o mundo, mas não te percas por aí.

A magia está no vestido que passeias frente ao espelho antes do dia acontecer, de como danças devagar ao som da "I'll be seeing you", da Billie Holiday, enquanto o cheiro do café se espalha pela casa, no sorriso que se desprende no "Bom dia" do A. Nas palavras que se transformam frases à espera de um papel onde as derramar, enquanto escutas o mar bater lá fora.

Amar-te não é fácil, mas deixa-me lembrar-te desse corpo que habitas, portal sagrado do mundo:  olhos que filtram a beleza dos dias, olfacto arquivo de memórias tantas, o conforto num prato de "pasta", toque que carrega afectos, prazer, amor sem palavras, e como escutar um passarinho na janela é acto de revolução interna: estou aqui, basto-me, sou amor.  

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Sob a varinha de condão da encantadora de corações pulsantes, Cris Lisbôa