A Roda do Ano Celta (revisto em 2025)

Nota de actualização — Outubro 2025

Este texto foi originalmente escrito em 2020, quando comecei a explorar o que então conhecia como “a Roda do Ano Celta”.

Nos anos que se seguiram, o caminho ensinou-me que parte da informação que partilhei era uma leitura contemporânea - sobretudo inspirada pela Wicca e por correntes neopagãs do século XX - mais do que um reflexo fiel do que sabemos historicamente sobre os povos celtas.

Mantive o texto, com algumas revisões, porque ele marca uma fase bonita e honesta do meu percurso. Acrescentei apenas o que aprendi entretanto: que a “Roda do Ano” como a conhecemos hoje é uma síntese moderna, criada a partir de tradições sazonais antigas mas reinterpretada através da espiritualidade moderna - incluindo o Druidismo contemporâneo, como o da Order of Bards, Ovates & Druids (OBOD), onde encontrei mais tarde uma casa mais fiel à minha própria sensibilidade.

A verdade é que tudo vive, também, em revisitação. Escrever - e reescrever - é parte do ciclo. 🌙

A Roda do Ano


A primeira vez que ouvi falar na Roda do Ano foi quando comecei a ler sobre o povo Celta. Cheguei aos Celtas porque sentia necessidade de prestar homenagem à terra que piso e aos que vieram antes de mim.

Ser Portuguesa tem muito que se lhe diga - foi o cabo dos trabalhos meter-me nisto de “honrar antepassados”. Cheguei a pensar muitas vezes: “Onde raio me vim meter?” - e lembrei-me das aulas de História onde só participava de corpo presente. Ter-me-ia dado jeito, agora.

Temos um património genético que só faz lembrar o jantar de domingo à noite: ele é Celtas (Lusitanos, Galaicos e Cónios), Gregos, Fenícios, Romanos, Cartagineses, Suevos, Visigodos, Mouros, Árabes… uma salganhada bonita. Por isso, quando quis olhar para trás, tive de fazer uma escolha.

Em vez do “um-dó-li-tá” , olhei para a minha família. E percebi que, não negando a costela alentejana de Grândola, as raízes dominantes são Ribatejanas e de Transmontanas. A escolha caiu nos Celtas - vá, eu estava a torcer por isso, só precisava de uma justificação plausível ahaha.

Não há como negar a presença Celta em Portugal. Muitas das nossas festas tradicionais guardam ainda ecos pagãos, sobretudo no Norte do país - festas da colheita, fogueiras, danças sazonais. Mas é importante lembrar: a estrutura da Roda do Ano, com oito festivais marcados e nomes fixos, é uma criação moderna, inspirada nesses ritmos antigos mas reconstruída no século XX por correntes neopagãs (como a Wicca) e pelos movimentos de renovação druídica.

ilustração do livro Wicca, Harmony Nice

ilustração do livro Wicca, Harmony Nice

Entre essas tradições modernas, o ano divide-se simbolicamente em duas metades - a luminosa e a escura - e quatro estações, celebradas através de oito festivais:

🌙 Samhain (31 de Outubro) – o portal do Inverno e o novo ano celta (não defendido por Ronald Hutton, a visão do novo ano celta é uma visão contemporânea)
🌙 Imbolc (1 de Fevereiro) – o tempo dos começos e dos nascimentos.
☀️ Beltane (1 de Maio) – a união do fogo e da terra, o florescimento da vida.
☀️ Lughnasadh (1 de Agosto) – a primeira colheita e o agradecimento à abundância.

E, entre estes, os Solstícios e Equinócios:
🌞 Alban Arthan (ou Yule, o Solstício de Inverno), Alban Eilir (ou Ostara, o Equinócio da Primavera), Alban Hefin (ou Litha, o Solstício de Verão) e Alban Elfed (ou Mabon, o Equinócio do Outono).

O meu altar de Lugnasadh (ou Lammas), que se comemorou no passado sábado.À falta de uma mesa cheia, e à luz de uma pandemia, celebrei-o online com as minhas magas, a Joana do Ninho e a Joana do Vento.

O meu altar de Lugnasadh (ou Lammas), que se comemorou no passado sábado.

À falta de uma mesa cheia, e à luz de uma pandemia, celebrei-o online com as minhas magas, a Joana do Ninho e a Joana do Vento.

Estes nomes e datas foram sistematizados mais recentemente, mas reflectem - de forma simbólica e bela - os ciclos que sempre orientaram a vida humana: o nascimento, o crescimento, a colheita e o repouso.

Para mim, celebrar a Roda do Ano é celebrar o tempo da terra e o meu próprio tempo interior. Cada festival lembra-me que sou natureza, e que o tempo não é linear, é circular.

Honrar estes ciclos devolve-me ao respeito pelo ritmo das coisas. Recorda-me que o tempo tem o tempo que o tempo tem.

Honra.









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Fontes e leituras recomendadas:
– Ronald Hutton, The Stations of the Sun: A History of the Ritual Year in Britain (Oxford University Press, 1996)
– OBOD , The Eightfold Wheel of the Year and Festivals (druidry.org)