das memórias dos dias felizes, dos pés descalços no jardim do avô Fialho, de correr atrás das borboletas e do tempo ser eterno.
I'm still dancing at the end of the day
Oh, if you keep reaching out
Then I'll keep coming back
And if you're gone for good
Then I'm okay with that
And if you leave the light on
Then I'll leave the light on
And I am finding out
There's just no other way
That I'm still dancing at the end of the day
Maggie Rogers,
Light On
Sussurrou-me uma brisa que me lê a alma na distância.
No amor só se entra descalço
É difícil escrever sobre o amor quando o prendemos a um rosto, é difícil porque amar nos confronta com a nossa própria mortalidade. Queremos ter tempo para viver o amor e o tempo escorre-se-nos pelos dedos.
É difícil escrever sobre o amor porque temos vergonha de mostrar ao mundo o amor lamechas, o amor fofinho, o amor vulnerável que dá o coração às balas sem nunca perder o sorriso tonto.
O Manuel António Pina escreveu um poema cujo verso final me ficou gravado, talvez o eternize na pele, um dia, como lembrete de que no amor só se entra descalço.
”entro no amor como em casa”
(este é o teu gatilho de escrita, abensonhado*)
(as participações podem ser, ou não, partilhadas, públicas ou anónimas, ditas ou escritas, o teu coração o saberá, dá-lhe a palavra)
*expressão adoptada do inspirador Mia Couto, junção das palavras “abençoado” + “sonhado”, que são vocês.
Escrevo para (me) entender o mundo.
Escrevo para (me) entender o mundo.
É fuga, terapia e abraço.
Escrevo porque sinto raiva, porque o tempo escapa e porque preciso de o agarrar. Por amor, de loucura e de saudade. Escrevo porque a cafeteira italiana estava tão bonita, ao lume, que o meu coração não aguentou. Ou porque a lembrança do teu gesto na barba me entrou de rompante escancarando a porta entreaberta. Escrevo porque a vida é demasiado e porque não tenho outra forma de dizer "estou presente" sempre que a luz da manhã enche o quarto.
Hoje abri as janelas e a rua cheirava a mar, quis escrever sobre isto mas percebi que, para mim, tudo já estava dito. Ainda assim, serviu me de pretexto para vos falar de tudo isto que é a escrita para mim. E isto é bonito porque sei que para qualquer outra pessoa, esta mesma frase, será um "gatilho" diferente.
Recebi muitas respostas interessantes sobre isto da escrita e de se manter com foco, e alimento criativo, um blogue. Também fiquei a conhecer projectos incríveis que me inspiraram muito e me fizeram sonhar. Obrigada!
Então hoje, se leste tudo isto até aqui, proponho-te um desafio que poderás - ou não - partilhar (de forma privada) comigo. O caminho é pelo coração. Que estas palavras te sejam gatilho: "Hoje abri as janelas e a rua cheirava a mar"
(post original para instagram)