Primeiras Vezes

[🇬🇧 english below]

As primeiras vezes atravessavam-nos o corpo inteiro. O mundo entrava pela pele como chuva miúdinha: os olhos abriam-se de espanto, o peito batia descompassado, as mãos tremiam antes do toque. A barriga cheia de borboletas. Era a descoberta em estado puro, a emoção crua, a urgência que nos fazia acreditar que viveríamos para sempre.

Guardo todas essas primeiras vezes numa caixa antiga, envoltas num tecido branco de linho. Esta caixa não existe senão na minha memória, mas sinto-lhe o peso e o quente da madeira sob as minhas mãos. A memória é um tesouro. Sei que ainda me esperam outras, mas nenhuma trará o fulgor das primeiras primeiras vezes. A novidade deixou de ser ferocidade para se tornar outra coisa - maturidade, familiaridade, ternura, amor.

Às vezes a Saudade vem e abre a caixa. Pergunta-me: “em que instante deixaste de sentir o mundo pela pele e passaste a observá-lo com olhos que julgam saber o caminho?”. Foi subtil, quase imperceptível, como o passar das estações. A pele, outrora mapa e bússola, aprendeu a arquivar em silêncio o que antes me incendiava.

Não procuro recriar o irrepetível, mas ensaio abrir janelas novas neste corpo que habito. Permitir que a surpresa se revele num outro ritmo, mais lento, mais discreto, mais profundo. Há espanto nos dias comuns: um café que se repete até ser sagrado, uma rua que se descobre ao acaso, uma canção que devolve por instantes a vertigem de ser imatura.

As primeiras vezes da juventude ficaram como sementes no solo. Não germinaram, tornaram-se alimento à terra onde hoje florescem novas flores, outros dias, talvez menos intensos, mas mais cuidados, ponderados. Ainda assim, vivos.

A urgência cedeu espaço à vida adulta, responsável, que usa relógio e cumpre prazos, mas eu ainda guardo os all star rasgados, as sms trocadas madrugada fora e a sede da vida que era toda ela urgência.

🇬🇧 First Times

The first times would run through me like a current. The world slipped beneath my skin like fine rain: eyes widened in wonder, the chest stammered in its rhythm, hands trembling before the touch. A belly filled with butterflies. It was discovery in its rawest state, emotion unrefined, an urgency that made us believe we might live forever.

I keep those first times in an old wooden box, wrapped in white linen. The box does not exist, it lives only in my mind, yet I feel its weight, the warm grain of its wood beneath my hands. Memory is a treasure. I know more firsts will come, but none will carry the wildness of those earliest firsts. What was once ferocity has softened into something else - maturity, familiarity, tenderness, love.

Sometimes Longing comes to lift the lid. It asks: “at what moment did you cease to feel the world through your skin and begin instead to watch it with eyes that thought they already knew the way?”. The change was subtle, almost imperceptible, like the shifting of the seasons. The skin, once map and compass, has learned to archive in silence what once set me alight.

I do not seek to remake what cannot be repeated, but I try to open new windows within this body I now inhabit. To allow surprise to arrive in another rhythm - slower, quieter, deeper. There is wonder in ordinary days: a cup of coffee made sacred by its repetition, a street stumbled upon by chance, a song that returns, for an instant, the vertigo of immaturity.

The first times of youth remain as seeds in the soil. They did not sprout but instead became nourishment for the ground where new flowers bloom -days perhaps less fierce, but more deliberate, more tended. Yet alive.

Urgency has given way to the measured pace of adulthood, with its watches and deadlines. Yet I still keep the torn sneakers, the midnight messages, the thirst for life that once was nothing but urgency.

Equinócio de um Outono Interior

[🇬🇧 version below]

Setembro chegou como quem estende um xaile sobre os ombros, promessa de abrigo, de resguardo. Por baixo dele, um peito em alvoroçado desassossego. A iminência de uma mudança de casa, que começou cheia de entusiasmo, e que entrou numa espécie de limbo que sufoca: na nova casa esperam-me varandas cheias de sonhos, a minha biblioteca, as gargalhadas da Matilde entre portas, e nas mãos que acariciam as suas paredes a urgência de lhe dar forma, de inscrever nela a nossa história; enquanto isso, na antiga que é ainda o hoje, continuamos à espera que alguém queira habitá-la, sem que as visitas se transformem promessa. É cansativo viver assim, entre dois mundos - o que já não é sustentável e o que tanto desejo - como quem tenta manter um pé em cada margem do rio sem conseguir atravessá-lo.

Ainda nesta travessia, a viagem ao Porto com a Matilde, para a consulta multidisciplinar com a Equipa de Fendas. Saímos de lá com boas notícias: ela está bem, muito bem, e os médicos muito felizes com os resultados. Senti orgulho e alívio e, ao mesmo tempo, um aperto no peito de mãe que pressente os desafios que ainda virão. Nestas consultas, onde tantas famílias se cruzam, percebo de forma muito concreta a importância da representatividade - algo que, do alto do meu privilégio, nunca havia sentido tão de perto o peso e a urgência. Ali, naquele espaço partilhado, é impossível esquecer que não estamos sozinhos, as dores dos outros são verdadeiramente, e de forma muito crua, as nossas.

À saída do Hospital, não fosse a minha vida uma espécie de comédia dramática regadinha a humor negro, o nosso carro avariou. Entre o riso e o desespero só conseguia pensar em mais uma volta que tinha de dar ao nosso orçamento familiar para conseguir gerir tudo isto. A Matilde brincava alheada, com a sua fralda de pano, a afugentar o sono. Eu só queria espantar os receios que me habitavam o peito. 

(pensava, enquanto escrevia tudo isto, que  que é quase como um reflexo interior de um eclipse: uma luz que irradia dentro, com tanta força e fé, mas que por instantes se encobre. O eclipse de ontem não foi visível no nosso céu, mas sinto que o carrego dentro de mim -  esta claridade prometida e ainda velada.)

Nesse mesmo dia, a custo, levámos o carro até à casa nova da minha irmã, que nos esperava com almoço e com aquele sorriso que soluciona metade dos meus problemas ainda antes de eu os proferir. A Matilde estava toda ela alegria: caminhou pela horta, apanhou um tomate, plantou girassóis com a tia, inspeccionou as abóboras, correu, riu e brincou até se cansar. 

Quando chegámos a casa, terminado o fim de semana, dispus sobre a mesa as abóboras que nos ofereceu e sorri - a generosidade simples da partilha das colheitas, de uma mesa farta, de uns braços que acolhem as nossas lágrimas. Junto às abóboras, tirei da fruteira as bananas maduras, e sem pensar muito nos gestos que se seguiram, e sem planos, cozi um bolo doce que encheu a cozinha de cheiro a casa e canela.

Entendo, nestes gestos pequenos, que a minha prática espiritual, tantas vezes adiada pela correria dos dias, acontece afinal aqui. Quando me deixo alinhar com a época do ano, com aquilo que a terra dá, o meu coração encontra calma. É nessa presença que sinto que pertenço. É também essa a presença que me resgata dos momentos menos bons, dos desafios.

Chega de mansinho o Equinócio de Outono, já hoje, dia e noite em perfeito equilíbrio. É o convite para deixar ir o que já não serve e a confiar no que fica a germinar debaixo da terra, invisível mas vivo. Eu sei que me falta paciência, que quero sempre tudo para ontem - e há angústia nessa pressa. Está aí o ensinamento, na sabedoria da terra: aceitar o silêncio do inverno como parte do ciclo, e acreditar que, mesmo sem ver, algo já se prepara.

É no entrelaçar dos contrários que a vida se faz inteira: sombra e luz, sufoco e abundância, medo e ternura. Tudo ao mesmo tempo.

🇬🇧 Equinox of Inner Autumn

September arrived like someone draping a shawl over the shoulders, a promise of shelter, of refuge. Beneath it, a heart in restless commotion. The imminence of moving house, which had begun full of excitement, has slipped into a suffocating limbo: in the new home, balconies full of dreams await me, my library, Matilde’s laughter echoing between doors, and in the hands caressing its walls, the urgency to give it shape, to inscribe our story there; meanwhile, in the old house, still part of today, we wait for someone to want to live there, without visits ever becoming a promise. It is exhausting to live this way, between two worlds - what is no longer sustainable and what I so desperately desire - like trying to keep a foot on each bank of a river without being able to cross it.

Amid this journey, there was also the trip to Porto with Matilde for the multidisciplinary consultation with the Cleft Team. We left with good news: she is well, very well, and the doctors were pleased with the results. I felt pride and relief, and at the same time that tightness in a mother’s chest, sensing the challenges yet to come. In these consultations, where so many families meet, I understand in a very concrete way the importance of representation - something I had never felt so intensely, from the height of my privilege. In that shared space, it is impossible to forget that we are not alone; the struggles of others are truly, and very acutely, our own.

On leaving the hospital, as if life were a darkly comic drama, our car broke down. Between laughter and despair, I could only think of yet another adjustment I’d have to make to our family budget. Matilde played obliviously, twirling her muslin swaddle between her fingers, warding off sleep. I just wanted to chase away the fears that inhabited my chest.

(I thought, while writing all this, that it is almost like an inner eclipse: a light radiating within, with so much strength and faith, but momentarily covered. Yesterday’s eclipse could not be seen in our sky, yet I carry it within me - that promised light, still veiled.)

Later that day, somehow, we managed to take the car to my sister’s new home, where she was waiting with lunch and that smile that manages to solve half my problems before I even voice them. Matilde was pure joy: wandering through the garden, picking a tomato, planting sunflowers with her aunt, inspecting the pumpkins, running, laughing, and playing until she was tired.

Back home, at the end of the weekend, I set the pumpkins we had been given on the table and smiled - the simple generosity of sharing the harvest, a bountiful table, arms that welcome our tears. Beside the pumpkins, I took the ripe bananas from the fruit bowl and, without overthinking the steps and without plans, baked a sweet banana cake that filled the kitchen with the scent of home and cinnamon.

I understand, in these small gestures, that my spiritual practice, so often postponed by the busyness of the days, actually happens here. When I allow myself to align with the season, with what the earth gives, my heart finds calm. It is in this presence that I feel I belong. It is also this presence that rescues me from the harder moments, from the challenges.

The Autumn Equinox quietly approaches, today, day and night in perfect balance. It is an invitation to let go of what no longer serves and to trust in what is germinating beneath the earth, invisible but alive. I know I lack patience, that I always want everything yesterday - and there is anguish in that hurry. Yet therein lies the teaching, in the wisdom of the earth: to accept the silence of winter as part of the cycle, and to believe that, even unseen, something is already preparing itself.

It is in the intertwining of opposites that life becomes whole: shadow and light, struggle and abundance, fear and tenderness. All at once.

Três coisas que me resgataram a alma em Maio

Maio foi mês de contrastes. Teceu-se de dias pesados e cinzentos, de desafios, de gestos que se repetem até ao cansaço, de dias em que o corpo vai… mas a alma fica para trás. Mas também se fez dos gestos pequenos e ordinários que, de tão repetidos, se cai no erro de lhes retirar valor, de notícias que nos trouxeram leveza e de fins de semana de sol, em família.

Por fim, entre o correr dos dias e o tentar abrandar para ver o que está além, houve três coisas que me resgataram. Três encontros com a beleza — da imagem, da palavra, do som — que me devolveram àquilo que é essencial.

1. A beleza da imagem: "Quando a Vida te Dá Tangerinas" (Netflix, 2025)

Seguramente a série mais bonita que vi nos últimos anos. De uma beleza que não grita, aquela beleza que nasce do real, do imperfeito, do importante. Escrita pela enigmática Lim Sang-choon, esta história que se vive na ilha de Jeju, de gente comum, de afectos quase invisíveis mas intensamente presentes, resgatou-me dos dias cinzentos de sobrevivência e devolveu-me o fôlego.

Pela primeira vez, em muito tempo, voltei a acreditar num futuro bonito. Foi como se alguém me tivesse posto uma mão sobre o ombro e sussurrado: “Continua. Ainda há calor, ainda há beleza, a vida não está no extraordinário. Está aqui. O sangue pulsa, e a vida é agora, e agora, e agora, num constante reinventar, a cada estação, sem perder a fé, o amor, e o quente de quem segura a nossa mão dentro de um bolso.”

2. A beleza da palavra: "O Livro Branco", de Han Kang (Dom Quixote, 2019)

Na sexta-feira passada, fiz algo que há muito não fazia: resgatei tempo para mim, não para limpar a casa, não para resolver recados, para respirar — para cuidar da alma. Ia ver um concerto e, como cheguei duas horas antes para levantar o bilhete, entrei na Bertrand. E este livro escolheu-me, como acontece sempre com os livros que nos transformam.

Sentei-me numa esplanada, abri a primeira página… e quando dei por mim, tinha passado uma hora e meia. Quando levantei os olhos, o céu parecia mais azul, as plantas mais verdes, o mundo mais vivo.

Han Kang escreve com uma delicadeza cortante. Cada fragmento é uma oferenda à ausência, ao luto, à memória. Um livro sobre o que não chegou a ser, uma prece, uma forma de dar corpo à ausência. É um livro para ser lido com tempo, com silêncio por dentro.

Terminei-o no dia seguinte, e tenho-o junto a mim desde então, porque ainda não descobri como sair dele. Ficou-me na pele.

3. O concerto “Música Sem Tempo - Instrumentos Tradicionais Portugueses” — Projecto Aduf&lectrónica - WNMD 2025 - Concerto N.º 1

Fui sozinha ao concerto de abertura do festival World New Music Days. O projecto Aduf&lectrónica, de Rui Silva e Bruno Gabirro. Com a presença das vozes imensas das cantadeiras Joana Negrão e Ana Paula Rodrigues. Foi bonito, tão bonito. É difícil explicar o que se sente quando o som ancestral do adufe se funde com paisagens electrónicas — não numa tentativa de apagamento, mas num reencontro. Ali, a tradição não é coisa antiga: é semente. É raiz a reinventar-se.

Na espera para entrar, conheci um compositor da Nova Zelândia. Partilhámos palavras sobre as mulheres do nosso país, sobre o poder do adufe e o valor das canções do povo. Falámos da urgência de não deixar morrer essas raízes — e da alegria de vê-las renascer de outras formas.

Foi um momento profundamente bonito, emotivo, de muito orgulho e sobretudo de sentido de pertença, que nos falta tanto nos dias que correm. A música do povo, com toda a sua força, foi tocada para um mundo inteiro naquela sala.

——

Três encontros, três caminhos de volta a nós, ao que é importante, ao que nos resgata. A reflexão de que a vida é mais simples do que cremos. Que somos muitos, muitos mais, a viver nesta angústia dos dias que parecem não ter horas suficientes e que talvez seja tempo de, por fim, abrandarmos e olharmos para o que é, afinal, importante.

A vida é agora, e agora, e agora.

Festa do Adufe, 2025

Em 2020 comprei o meu adufe. Não venho de uma linhagem de adufeiras, ninguém na família o tocava, não tenho memória herdada — mas o que senti foi mais antigo, uma memória resgatada de outros tempos, de outras mãos. Lembro-me de ver um vídeo da Mariana Root, de escutar a sua voz com o adufe nas mãos, de repetir vezes e vezes sem conta aquele vídeo. Foi avassalador, sem lógica alguma, mas de uma verdade que não sei explicar. E embora a vida se tenha tecido de tantas linhas — a mudança da casa, a chegada da Matilde, os dias que se atropelam — o adufe esteve sempre ali, carregado de divisão em divisão da casa, tocado timidamente, visível, sempre, para que não me esquecesse de lhe chegar.

Nos últimos tempos, guiada por mãos e vozes sábias que se vestem de negro, tenho mergulhado num caminho de resgate. Um caminho que me leva a escavar dentro e fora de mim, à procura daquilo que nos faz povo, que nos faz Mulher, que nos faz casa. Com a madrinha da Matilde, aprendi e tenho vindo a aprender cantigas que são oração e espanto, colo e firmeza, chão e embalo. Cantigas de mulheres, maioritariamente beirãs, passadas de boca em boca, de geração em geração, que me devolvem algo que sempre foi meu e eu não sabia.

Regressei, assim, ao adufe, às aulas do Rui Silva, e a um lugar que sabe sempre a casa.

Este fim de semana fomos à Festa do Adufe, em Monsanto. Fomos os três, em família. Chegámos já tarde, na sexta-feira à noite, depois de perder os dois primeiros dias — os dias dedicados às oficinas, às aulas que tanto ansiava. Deixei o André e a Matilde na casinha onde íamos ficar, e subi ao Forno Comunitário, o coração da festa, onde gentilmente nos haviam guardado o jantar.

À medida que me aproximava, subindo pelas ruas estreitas de mãos nos bolsos e frio nas bochechas, fui começando a ouvir os primeiros sons de adufes a ecoar entre as pedras. Senti o peito tremer. O cheiro da lenha, o crepitar da fogueira, o escuro iluminado pelas brasas - já se tocava e cantava à fogueira. Encontrei a Sofia, que partilhou casa, colo, braços e abraços connosco, estes dias, fomos a casa e regressámos à fogueira. A D. Amélia cantava a última cantiga da noite e, de repente, reconheci o trecho que canto para a Matilde desde que soube que já vivia em mim.

Cheguei tarde à Festa do Adufe, mas ali, àquela fogueira, chegara exactamente no tempo certo.

No sábado aprendemos a construir uma Marafona, com a D. Amélia, a sua história e significado, vimos a Aduzinda a fazer os potes de flores, e ainda que a chuva não previsse tréguas, subiu-se ao castelo para a festa da Divina Santa Cruz. Ali, entre as pedras e o céu, senti a força do que permanece. Vi rodas de adufes a formar-se no largo, no forno, em todos os lugares e no antigo lagar, por entre elas, a Matilde a correr e a rir. E senti que o mundo podia parar naquele instante, porque estava tudo certo.

Oferecer-lhe isto — este som que é oração, este toque que é pulsar do coração da Terra — foi uma das coisas mais importantes que já fiz. Senti que lhe dava algo que nenhuma escola, nenhum ecrã, nenhuma pressa poderia dar. Um laço invisível mas firme ao que somos, à nossa história, às mulheres que vieram antes, às que estão agora e às que virão.

Ouvi, toquei, cantei e dancei. Conheci mulheres que seguram nas mãos e nas vozes esta arte antiga com uma dignidade que me comoveu. Mulheres de uma sabedoria imensa, guardiãs de histórias e de vida. Mulheres que buscam encontrar-se, mulheres que resgatam a sua história, mulheres-filhas, mulheres-mães, e sobretudo corações que se permitiram ler e ser lidos. O coração regressou cheio e a garganta vazia de palavras perante a imensidão destes dias.

Num mundo que nos empurra para o igual, para o imediato, para o que se esquece assim que se vê, a Festa do Adufe e o resgate de tradição que representa nos dias de hoje é resistência. É não deixar morrer o que faz de nós… nós. Obrigada a quem a sustenta em alma, amor e força.

A prece que teço à Matilde, deixo-a a todos nós: que se escutem os sons que ecoam de outros tempos. E que, entre brinquedos e risos, haja sempre espaço para um adufe. Para um canto. Para um lugar onde o coração encontra casa... ainda que não o saiba explicar.

 
 


Este artigo dedico-o à minha família Galega, e ao trabalho que fazem por manter viva as suas próprias tradições, por me falarem sempre em galego, por cantarem e tocarem a sua música e, sobretudo, por me inspirarem a resgatar e a passar à Matilde o que de tão nosso temos. Maite, Héctor, Maite e Carlos: amo-vos.