se soubesses o quanto te amo a mais que ontem
dirias que o impossível ocupou a tua cama e não há como provar
que certas coisas são mais reais que outras
sempre que este corpo tem o teu por companhia.
Your Custom Text Here
se soubesses o quanto te amo a mais que ontem
dirias que o impossível ocupou a tua cama e não há como provar
que certas coisas são mais reais que outras
sempre que este corpo tem o teu por companhia.
Abri o coração como nunca
tinha aberto, duvido até que seja
o mesmo coração, a operação,
que a outra pessoa vê, é uma
espécie de transfusão. Coração
aceite em recíproca função
e em expressão válida, com muito
significado? Pelo menos parece.
No fundo da língua de areia
já se avista um chapéu e um andar,
batem os pés à medida do encontro
e parecem-se tanto com o bater
do coração. Para o mal e para o bem,
para o que der e vier, pões-me
a tensão muito alta felizmente.
Helder Moura Pereira
Pela Parte Que Me Toca,
Assírio & Alvim
A dor não humaniza ou enobrece,
não faz de nós melhores nem nos salva,
nada a justifica nem a invalida.
A dor não perdoa nem imuniza,
não fortalece ou dulcifica a alma,
não cria nada e nada a destrói.
A dor existe sempre e volta sempre,
nenhum dos seus actos será o último
e todos podem ser definitivos.
A dor mais terrível consegue sempre
ser mais intensa ainda e ser eterna.
Vai sempre acompanhada pelo medo
e ambos se alimentam um ao outro.
Amalia Bautista
Estou Ausente
Averno
Me disse e foi, não voltou mais. Agora como faço e vivo? Falou: muito fácil, canja, favas contadas. Tu vais, todos os dias limpas, todo o dia; vais para o trabalho, trabalhar é bom, tu vais e não pensas: só trabalhas, pegas no esfregão, passas por uma superfície suja. Ou não. Ou tu vais e falas, ensinas; ou não, não falas. Tu vais e investigas. Ou cavas a terra, ou tu vais e plantas batatas, crias o gado, apascentas ovelhas. Vigias a velhice, lavas os dentes. Eu vou. Tu ficas, ele disse. Me disse e foi. Comes o pão. E respiras. Para dentro e para fora. Lavas a roupa, partes a pedra, colhes flores de manhã. Olhas os cães, amas ou não. Aborreces-te, cantas baixinho, contas as batidas do teu coração. Aqui ou ali, com este ou aquele. Sem mim. Eu vou. Vou e não volto nunca mais. O mundo é grande e eu quero andar. Tu choras. E depois ris, enrolas o cabelo com ganchos. Trancas a porta, vês as galinhas porem ovos, os peixes do mar.
E depois um dia abres a cova, enfias-te nela, fechas os olhos e deitas por cima a terra. E vais.
Sara Monteiro
primeira antologia de micro-ficção portuguesa,
Exodus