Obrigada pelo Lume


"(...) creio que tens o direito de te sentires pleno; confesso-te que para mim foi uma verdadeira crise; mas de repente vi claramente, vi que a morte está sempre a vingar-se das nossas vacilações; a nossa vida compõe-se de três etapas: vacilar, vacilar e morrer; a morte, em troca, não vacila diante de nós; mata-nos e acabou-se; e o grande espião, o formidável quinto pilar que a morte instalou em nós, chama-se escrúpulo; já sei, eu tenho escrúpulo, tu também, compreende que não estou contra o escrúpulo; mas é o quinto pilar da morte; porque graças ao escrúpulo, vacilamos, e passa-nos o tempo de gozar, de gozar esse minuto feliz que, como graça especial, foi incluído no nosso programa; passamos toda a vida a sonhar, com desejos incumpridos, recordando cicatrizes, construindo artificial e mentirosamente o que podíamos ter sido; constantemente estamos a travar-nos, a conter-nos constantemente, estamos a enganar e a enganar-nos; cada vez somos menos verdadeiros, mais hipócritas; cada vez temos mais vergonha da nossa verdade; (...)"

Mario Benedetti
Obrigada pelo Lume,
Cavalo de Ferro 
2008 

Portrait of Prometheus: As a basketball player.


His layup starts from mountains 
not with landslide, rumble or some gorgon clash of titans, but as shadow-fall across stream 
some thief in the night black Christ 
type stealth. 
In the nights before this,
his name, whispered in small circles, muttered by demigods and goddesses, spread rebellious,
rough on the tongues of whores and queens,pillows pressed between thighs, moaning. 
Men will call him father, son or king of the court. His stride will ripple oceans,feet whip crack quick, his back will scar, hunched over, a silent storm about him.
Both hands blurred, scorched, bleeding;you see nothing but sparks splash off his palms, hear nothing but breeze beneath his shuck ‘n’ jive towards the basket carved of darkness, net of soil and stars.
Fearing nothing of passing from legend to myth, he fakes left, crossover, dribbles down
the line, soars an eagle chained 
to hang time. 


Inua Ellams


via Basketball, Poetry, and the Union of the Two

Hagamos un trato

Compañera 
usted sabe 
puede contar 
conmigo 
no hasta dos 
o hasta diez 
sino contar 
conmigo 

Si alguna vez 
advierte 
que la miro a los ojos 
y una veta de amor 
reconoce en los míos 
no alerte sus fusiles 
ni piense qué delirio 
a pesar de la veta 
o tal vez porque existe 
usted puede contar 
conmigo 

Si otras veces 
me encuentra 
huraño sin motivo 
no piense qué flojera 
igual puede contar 
conmigo 

Pero hagamos un trato 
yo quisiera contar 
con usted 

Es tan lindo 
saber que usted existe 
uno se siente vivo 
y cuando digo esto 
quiero decir contar 
aunque sea hasta dos 
aunque sea hasta cinco 
no ya para que acuda 
presurosa en mi auxilio 
sino para saber 
a ciencia cierta 
que usted sabe que puede 
contar conmigo.

Mario Benedetti