Não fui margem sem outra margem onde ligar os braços.


Não fui margem sem outra margem onde ligar os braços
Mas fui o tempo solto para entrançar os meus cabelos
E o movimento dos teus pés descalços

Não fui a solidão inteira nem reclusa
Para o único repouso entre o silêncio
Nem fui a flor exausta defendendo-se
De toda a mão que a quis despetalar

Não fui a casa que a si mesma se abrigou
Nem a morada que nunca se acolheu
Mas o tempo a pedir que me deixasse

Naquilo que não fui vim encontrar-me
E sempre que te vi recomecei


Daniel Faria 
Poesia,
quasi 

há dias.

Porque não sabemos mais se avançar, se recuar, se baixar os braços, ou só um e qual, se levantá-los, um só?, mas qual. Permanecemos sentados à espera duma resolução que não chega, mas quando chega, e sabemos que basta esperar, é tão irrisória como qualquer outra, beber um copo de água, comer um pão com geleia, admirar o doce da geleia na língua e saborear a sua cor tão parecida com a do sangue


Bénédicte Houart 
Há Dias
& etc 

"Tantas manhãs terrivelmente lentas antes de ti"


Levanta-te e amaldiçoa o tempo - 
amanhã tão depressa e quase nada
para ficarmos juntos até à escuridão.
Tantas manhãs terrivelmente lentas
antes de ti, tantas tardes de retratos

exaustos sobre as mesas, noites que
nunca abriam fendas para o sonho; e de
repente os dias a fugirem como água
de dentro de uma mão, amanhã tão

depressa. Não te conformes: amaldiçoa
o tempo. Se for preciso, grita com Deus -

a mim ouviu-me enquanto te esperava.

Maria do Rosário Pedreira