de alguém seria, mas
de cada vez sendo
eu outra e outra
quem me agarraria me não teria
antes seria outro comigo
sem mim outro também
Bénédicte Houart,
Reconhecimento,
Cotovia,2005
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de alguém seria, mas
de cada vez sendo
eu outra e outra
quem me agarraria me não teria
antes seria outro comigo
sem mim outro também
Bénédicte Houart,
Reconhecimento,
Cotovia,2005
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sôbre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.
Cecilia Meireles
Antologia Poética, Editora do Autor, 1963
Já não se encantarão meus olhos nos teus olhos,
já não se acalmará junto a ti minha dor.
Mas para onde eu for levarei teu olhar
e para onde caminhes levarás minha dor.
Fui teu, foste minha. Que mais? Juntos fizemos
uma curva na estrada onde o amor passou.
Fui teu, foste minha. Serás do que te amar,
do que em teu horto corte o que só eu semeei.
Parto. Estou triste: mas eu estou sempre triste.
Deixo os teus braços. Não sei para onde vou.
... Do teu coração diz-me adeus uma criança.
E eu digo-lhe adeus.
Crespusculario (1920-1923), 5, Pablo Neruda
Antologia, Relógio d'Água
1998
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum.
Eugénio de Andrade